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Ameaças ocultas dentro de casa dão fôlego à dengue

Até mesmo uma tampinha de garrafa PET, facilmente encontrada em cantos escondidos do quintal, pode servir para a procriação do inseto

Clarisse Souza – Simone Lima

Matéria Publicada no Jornal Estado de Minas: 02/04/2013

Em meio a uma epidemia de dengue que não dá trégua desde o início do ano, os órgãos de saúde da capital e do estado têm reforçado a importância de eliminar os criatórios que se formam em imóveis habitados, responsáveis por cerca de 80% dos focos do mosquito Aedes aegypti. Mas o perigo não está restrito a caixas-d’água, pneus, garrafas e pratinhos de plantas. A larva do transmissor do vírus é capaz de se reproduzir em circunstâncias que normalmente são negligenciadas, em volume de água muito pequeno. Até mesmo uma tampinha de garrafa PET, facilmente encontrada em cantos escondidos do quintal, pode servir para a procriação do inseto.

Qualquer descuido com a limpeza pode ser suficiente para que um novo criatório do mosquito se forme. Uma casca de ovo descartada de forma inadequada, por exemplo, pode reter líquido suficiente para a reprodução do transmissor. Em casas com crianças, até mesmo brinquedos expostos à chuva podem se tornar propícios para que o mosquito deposite seus ovos. Segundo o entomologista da Fundação Oswaldo Cruz Rafael Freitas, 15 gotas de água já proporcionam ao inseto ambiente para reprodução. “A larva se desenvolve em lugares onde as pessoas menos imaginam. Já encontramos larvas em menos de 10ml de água”, alerta o pesquisador.

Em muitas casas, cacos de vidro são dispostos sobre muros em uma tentativa de afastar invasores. Mas o artifício pode atrair outro vilão. Formada, em geral, por garrafas quebradas, a barreira de vidro acumula água em dias chuvosos e também cria um ambiente ideal para a multiplicação do Aedes aegypti. Outros locais de difícil visualização também podem reter água e aumentar o risco de contaminação. “É o caso das calhas nos telhados. Em muitos lugares, as pessoas não fazem a limpeza com frequência. O acúmulo de folhas e outros materiais represa a água, e cria um pequeno reservatório sem que o morador perceba”, adverte Freitas.

No interior das casas, equipamentos domésticos que parecem inofensivos também ampliam as chances de procriação do inseto. Na cozinha, o perigo pode estar atrás da geladeira. Na parte inferior de alguns modelos do eletrodoméstico há um reservatório que retém a água do degelo. Segundo o pesquisador da FioCruz, se não for limpo com frequência, o recipiente pode se tornar um local ideal para o desenvolvimento das larvas. Em aparelhos de ar-condicionado, a bandeja coletora de água também pode abrigar ovos do mosquito.

Segundo o Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa), que mede a infestação larvária na capital, os reservatórios tradicionais – caixas-d’água, pratos de plantas, pneus e garragas – ainda são os principais responsáveis pela proliferação do mosquito. Mas o acúmulo de água em locais pouco convencionais representa risco à população e preocupa a Secretaria de Saúde de Belo Horizonte. “Os agentes estão atentos a qualquer local que acumule água, desde o copinho de iogurte jogado no quintal até os focos tradicionais”, afirma a gerente de Zoonoses da secretaria, Silvana Tecles Brandão. O entomologista da Fiocruz lembra que são necessários apenas oito dias para que o inseto evolua de ovo à fase adulta. “Por isso é preciso que as pessoas olhem para todos os focos e limpem os quintais e possíveis criatórios pelo menos uma vez por semana”, aconselha.

OPERAÇÃO LIMPEZA: A Secretaria de Estado de Saúde tem recolhido em várias regiões do estado itens que possam acumular água. Batizado de Dengue Móvel, o caminhão que faz o serviço visita bairros com maior incidência da doença e troca os itens que representam risco à população por material escolar. Somente na Região Metropolitana de BH, já foram recolhidos 40.849 recipientes que seriam focos em potencial.

REPRODUÇÃO DO MOSQUITO

Especialistas alertam para locais inusitados que podem acumular água suficiente para a reprodução do mosquito Aedes aegypti.

  • Tampas de garrafa PET;
  • Cacos de vidro sobre muros;
  • Cascas de ovo;
  • Reservatório de água atrás da geladeira;
  • Bandeja coletora de água em aparelhos de ar-condicionado;
  • Embalagem de salgadinhos;
  • Brinquedos esquecidos no quintal;
  • Bromélias.